2025 não foi linear. Não foi previsível, confortável ou indulgente com quem tentou sobreviver com fórmulas antigas. Foi um ano que arrancou os vernizes da liderança, das empresas e de nós mesmos. Acompanhei esse movimento de um lugar privilegiado: entre conversas de conselho, transições executivas, dinâmicas com times de alta responsabilidade e debates intensos com RHs e CEOs que sentiram a pressão real da velocidade. E se existe algo impossível de ignorar, é que a liderança clássica — aquela apoiada em senioridade, narrativa e histórico — perdeu validade. Não porque ficou ultrapassada, mas porque o jogo mudou.
Passamos décadas discutindo falta de talentos, sucessores e preparo. Mas 2025 revelou algo mais profundo: não falta talento no Brasil. Falta coragem. Coragem para assumir decisões difíceis, admitir o que não sabe, se expor, aprender, errar, acertar e mudar de direção. Coragem para abandonar o controle e assumir a responsabilidade. A maioria dos desafios que observei não tinha relação com habilidade técnica ou currículo. O gargalo estava em outra dimensão: densidade executiva — leitura de contexto, maturidade emocional, capacidade de sustentar conversas difíceis e, principalmente, autocrítica, o maior diferencial competitivo do ano.
Depois de dezenas de discussões e decisões complexas, três viradas ficaram evidentes. A primeira: a nova moeda da liderança deixou de ser performance e passou a ser leitura de contexto. Performance isolada virou commodity. Todos querem bons números, mas eles deixaram de ser suficientes. Vi executivos brilhantes perderem tração porque não conseguiram interpretar a dinâmica do mercado, o timing da empresa ou o estado emocional do próprio time. Em 2025, quem venceu foi quem leu antes — não quem entregou mais. A segunda: tecnologia deixou de ser ferramenta e virou língua nativa. Não é mais sobre “entender de tecnologia”, é sobre pensar com tecnologia. Executivos que tratavam transformação digital como projeto paralelo perderam relevância. A disputa agora é por líderes que tomam decisões complexas com dados, IA, experimentos e bom senso. Porque 2025 provou: o algoritmo é rápido, mas a maturidade ainda é humana. A terceira: conselho deixou de ser prêmio e virou responsabilidade emocional, técnica e ética. O glamour acabou. O que ficou foi trabalho — conversas difíceis, dilemas profundos e impactos amplos. Em 2025, muitos executivos descobriram que cadeira de conselho não é sobre status, mas sobre ser a última instância de lucidez quando a liderança operacional perde o eixo.
O RH também mudou de papel. Deixou de ser suporte e virou arquitetura estratégica. Não falo do RH que faz discurso bonito, mas do que segura dilemas reais: sucessão, conflitos de liderança, cultura tóxica, desalinhamento entre conselhos e CEOs, impacto emocional em times esgotados. 2025 deixou claro: não existe transformação digital, ESG ou governança que resista a lideranças emocionalmente imaturas. Quando isso falha, é o RH que recolhe os pedaços e precisa montar um novo quebra-cabeça — rápido, coerente e executável.
Ao longo do ano, conduzi discussões sobre CFOs migrando para CEO e conselho, RH assumindo novos espaços de governança, times revisando seu papel estratégico e empresas reconstruindo narrativas internas. E houve um ponto comum: as perguntas certas são mais poderosas do que respostas rápidas. As perguntas desconfortáveis, que ninguém faz na sala, mas todos pensam no corredor. 2025 premiou quem teve coragem de trazê-las à mesa.
E 2026? Não será gentil. Não vai premiar os melhores currículos, mas os melhores pensadores — líderes com repertório, densidade e capacidade real de adaptação. Gente que entendeu que carreira hoje é menos sobre “chegar ao topo” e mais sobre sustentar relevância em um mundo onde o topo muda todos os dias. Cultura virou estratégia. Governança virou comportamento. Confiança virou ativo financeiro. E liderança virou o fator que acelera ou destrói negócios. 2026 já está exigindo algo simples — mas raríssimo: lucidez.
Se eu pudesse resumir 2025 em uma frase, seria esta: não foi sobre entregar mais, foi sobre entender melhor. E quem entendeu melhor saiu mais preparado, mais maduro e mais consciente da liderança que o Brasil precisa. Entramos em 2026 com uma certeza: não existe espaço para quem lidera no automático. Executivos, RHs, conselheiros, times — todos fomos convocados a um outro nível de profundidade.
E quem aceitar esse convite não vai apenas se adaptar — vai definir os próximos capítulos da liderança no Brasil. A pergunta é: você está pronto para isso?